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terça-feira, 23 de abril de 2013

GESTÃO PARTICIPATIVA NA ESCOLA PÚBLICA



GESTÃO DEMOCRÁTICA



 


A gestão democrática na educação realiza-se através de mecanismos formais (normativos – leis, regimentos, por exemplo – e institucionais – tais como as Secretarias de Educação e Conselhos) e de práticas cotidianas que visam à participação dos diferentes atores sociais implicados, seja no nível dos sistemas ou das unidades de ensino, nos processos de planejamento, tomada de decisão e avaliação inerentes à organização e funcionamento desses espaços. Essa compreensão participada e/ou descentralizada da gestão surge do movimento produzido pelo novo reordenamento econômico e cultural mundial contemporâneo, chamado globalização, que afeta todos os campos sociais, bem como pela luta histórica em favor da democratização da sociedade e especificamente da educação, enquanto ação estratégica na disputa pela manutenção, atualização e transformação dessa mesma sociedade.

Por tratar-se de fenômeno complexo, é difícil falar de gestão democrática quando não estão amalgamados em um determinado cenário, pelo menos em maioria, alguns instrumentos considerados essenciais, quais sejam: processos de construção e gestão participada das políticas educacionais, tanto em nível mais amplo, como na especificidade do projeto político-pedagógico de cada unidade escolar; conselhos com representação de diferentes segmentos sociais (em nível de sistema e de escola) com caráter deliberativo e fiscalizador; participação da comunidade escolar na escolha do diretor de escola; garantia e descentralização de recursos financeiros públicos. Esses itens são indicadores na diferenciação da gestão democrática em relação a outras possibilidades de descentralização da gestão.

 

No Brasil, a escolha do diretor, conforme Padilha (1998) se dá: através da tradicional nomeação pelo poder público, dificilmente aceita como “democrática”, ainda que associada ou precedida de lista de candidatos indicada pela comunidade escolar; pelo concurso público, demais instrumentos citados, realizado por provas e/ou títulos, a fim de evitar clientelismos, ou influência do poder executivo; pela eleição, justificada pelo caráter político da gestão escolar e pela importância de participação da comunidade, organizada pela via indireta, através de Colegiado ou Conselho Escolar, ou pela via direta, com voto universal ou proporcional. Neste caso há o estabelecimento de “peso” dos votos de cada segmento escolar no cômputo final. Ainda há o chamado esquema misto, que combina um sistema de avaliação de “competência técnica” com processos de eleição pela comunidade.

Padilha (1998, p. 70), valendo-se de Paro (1998), avalia que, dentre essas possibilidades, a eleição é a forma mais democrática, pois a nomeação, mesmo com alguma participação da comunidade, tende a critérios político-clientelistas. O concurso, ainda que coíba o apadrinhamento político, acaba sendo democrático apenas para os candidatos, já que o diretor escolhe a escola, mas a escola não escolhe o diretor, desvestindo esse processo do seu caráter político.

No caso do esquema misto, também a comunidade tem o seu poder deliberativo bastante reduzido pelos processos de qualificação dos candidatos através de avaliações. Já nos processos de eleição, a experiência tem mostrado que a discussão democrática é bastante fomentada, “implicando maior distribuição do poder para as instâncias da base da pirâmide estatal”.

 


Em plena concordância com essa posição se expressa Dourado (2000, p. 83)), argumentando que “a administração escolar, por não se resumir à dimensão técnica, mas por configurar-se em ato político” deve contemplar a participação da comunidade, o que está prejudicado na modalidade de concurso. Mesmo assim, alerta que a eleição, enquanto canal legítimo na luta pela democratização da escola tem suas limitações ligadas ao sistema representativo. Neste sentido, ela deve estar articulada a processos de democratização com participação direta.

Reforça-se assim o que já foi dito anteriormente: ainda que a eleição influencie o modo de gestão, o processo democrático não se esgota nela. O exercício da função do diretor deve ser acompanhado por outras estratégias que ampliem os horizontes da democratização, através a participação no planejamento e controle da organização da instituição.

Em muitas reformas atuais em nível mundial, apoiadas por instituições que fomentam políticas educacionais, há uma intenção clara de dissociar o diretor, por vezes concebido como “administrador”, da atividade docente. A proposta de “profissionalização” dessa função, compreendida como um cargo a ser ocupado por especialistas renova uma concepção tecnicista que separa, tal como em uma concepção taylorista/ fordista de produção industrial, os processos de planejamento e gestão dos processos de “produção”, a partir de uma divisão verticalizada do trabalho.


O concurso público para diretor acaba por consolidar essa cisão entre o profissional docente e o profissional gestor, e permite pressupor, como sustentação teórica, a possibilidade de apartar a dimensão administrativa da dimensão pedagógica.

Os defensores do concurso público apontam muitas fragilidades nos processos organizados através de eleição: despreparo e desconhecimento dos candidatos acerca das tarefas inerentes ao cargo; desqualificação nas campanhas eleitorais, com promessas corporativas, populistas e clientelistas; disputa e cisão do coletivo docente, que pessoaliza o debate e é incapaz de agregar-se em torno do projeto vitorioso, após as eleições.

Por outro lado, os defensores da eleição, ainda que reconhecendo como pertinentes todas essas críticas, creditam os problemas à debilidade da cultura democrática, ou seja, é a falta de democracia que produz esses problemas, que tendem a ser superados com o tempo pelo próprio processo de enraizamento de uma cultura democrática.



           Referencial Bibliográfico:

Ø DOURADO, L. A escolha de dirigentes escolares: políticas e gestão da educação no Brasil. In: FERREIRA, N.(org).  Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2000.

Ø PADILHA, P. R. Diretores e gestão democrática da escola. In: BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto Salto para o futuro: construindo a escola cidadã, projeto político-pedagógico., Brasília: MEC, 1998. p. 67-78.

Ø PARO,V. H. Gestão democrática da escola pública. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1998.

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